domingo, 2 de janeiro de 2022

O ANJO DAS CAVERNAS

 

            Quem abrir o Livro dos Espíritos e fizer uma pausa para se permitir raciocinar sobre as implicações decorrentes da questão 918 ali contida, terá, sem dúvida, excelente oportunidade de travar diálogos mentais com os Mestres da Espiritualidade e assim chegar a conclusões absolutamente fantásticas a respeito da questão. Todo o processo já inicia-se na própria formulação da pergunta, como sempre, muito bem estruturada por Kardec: “Por que indícios se pode reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o Espírito na hierarquia espírita?” Ou seja: que indícios nos mostram que um ser humano galgou mais um degrau, assumiu uma posição mais elevada na hierarquia espírita? Primeiramente, o mais importante é definir a qual hierarquia Kardec se referia. É nesse ponto que Os Mestres Imortais nos induzem a pensar grande: sim, estamos falando da mais abrangente hierarquia, a da gigantesca trajetória do ser, “desde o átomo primitivo ao arcanjo”, como lemos na questão 540 do já citado Livro dos Espíritos. Vamos relembrar quais seriam os pontos marcantes que delimitam esses degraus hierárquicos: reino mineral, vegetal, animal, hominal e, por fim, angelical! Então, nesse sentido, a questão proposta por Kardec é como reconhecer um ser em sua fase humana pronto para ingressar em sua próxima fase, a angelical. Em sua resposta, os Espíritos Superiores dizem que haveriam dois indícios: o respeito às Leis Divinas e a compreensão da vida espiritual. O primeiro, completamente incontestável e bem compreensível, mas o segundo pede uma reflexão. O que há de tão especial em compreender-se a vida espiritual? Porque isso é tão decisivo? Se voltarmos nossa atenção para o ponto inicial da vida do ser como homem, teremos um paralelo que muito nos auxiliará na compreensão. A razão é que este é o momento mágico, quando a criatura finalmente amplia sua percepção e passa a ter consciência de si mesmo, reconhecendo-se como um ser existente, ainda que apenas na condição material. Um instante maravilhoso que marca para sempre a sua estreia como homem e que terá sua relevância comparada apenas a outro ponto-chave da sua trajetória milenar: é quando se achará pronto para dar mais um passo, galgar mais um degrau e estrear agora, orgulhosamente, na condição de anjo. Ele mais uma vez ampliará sua percepção e passará novamente a ter consciência de si mesmo, não mais como um ser material, mas agora como espírito, com as qualificações em potencial de um anjo, imortal, pleno de si mesmo, legítimo filho da luz, herdeiro do Universo. Quem reconheceria no grosseiro homem das cavernas o refinado ser humano moderno, com suas potencialidades afloradas? Não é por outro motivo que ainda teremos por muito tempo uma certa dificuldade em reconhecer o anjo estreante em homens espiritualizados. Verdadeiros anjos das cavernas em termos espirituais, mais parecidos com homens, mas ainda assim: anjos! A Natureza não dá saltos, mas caminha a passos muito, muito largos.

sábado, 3 de junho de 2017

Purificando o amor





Purificar é tornar puro, eliminar impurezas, extrair a parte valiosa do substrato. Em outras palavras, obter do lodo a flor delicada e perfumada. Este processo, que se repete incansavelmente ao longo de nossas vidas, tem o poder de retirar de nós mesmos todo o potencial da semente que irá produzir o anjo. Todas as características deste futuro ser superior são, desta maneira, arrancadas dele mesmo. Entre elas, obviamente, a mais sublime: o amor. Como todas as outras características, o amor está presente, desde o início, no psiquismo do ser. Quase irreconhecível em seus primórdios, a medida em que é purificado, separado de outros sentimentos menos nobres, passa a mostrar seu brilho e intensificar a sua poderosa força. O palestrante espírita Haroldo Dutra Dias, lembra-nos do pai do espírito André Luiz, no livro “Nosso Lar”, que estaria no umbral, em companhia de suas duas amantes. Sua mãe, então, planeja reencarnar para novamente recebê-lo como marido e também às duas mulheres, como filhas do casal. Haroldo completa o raciocínio dizendo da bondade divina,  que não quer o aniquilamento daquele amor com mesclas, mas sim purifica-lo, retirar do sentimento original as nuances de sensualidade, egoísmo, sentimento de posse e todas as demais imperfeições. É a este processo, afinal, que damos o nome de sublimação, o ato de tornar sublime a condição primária, que assim  consegue sobressair do entulho que a aprisiona e distorce. Vivemos na atualidade em um limiar importante, em que a parte dourada dos nossos sentimentos passa a brilhar mais forte. É quando estamos prontos para, finalmente, ostentarmos a jóia maior do Criador em nosso peito. Nosso objetivo agora: desgostar cada vez mais das imperfeições às quais nos afeiçoamos, em razão da prolongada convivência, para apurarmos nosso paladar e saborearmos as delícias do amor puro. A mesa está posta. Os convidados já estão chegando! Quem faz a oração de graças? 

domingo, 25 de maio de 2014

Bandido bom é bandido vivo!






          Há uma curiosidade espiritual acontecendo neste momento, bem debaixo dos nossos narizes, que poucos conseguiram perceber, apesar da gigantesca repercussão que ela provoca. Deus, como sempre, dando uma mostra da Sua incomensurável sabedoria está simplesmente promovendo a regeneração do Planeta utilizando-se do maior nível de maldade e rebeldia já visto nos últimos séculos, na face da Terra. Ensinando-nos a por em prática a famosa expressão “transformar limão em limonada”, Ele claramente reforça o conceito de que nada permanece inútil para sempre, mesmo quando insistimos em contrariá-Lo. 
          Mas, o cerne da questão é: como o Criador procede para, à Sua maneira magistral, fazer a “banda podre” da humanidade produzir um Planeta Terra regenerado, onde a palavra “amor” estará inscrita em cada fronte? Sabemos que o processo é um tanto mais complexo e que existem outros fatores envolvidos nele. Por exemplo, a vinda de espíritos voluntários de Planetas mais adiantados, compondo grupos que se convencionou chamar de crianças índigos e cristais. Por outro lado, grandes luminares da humanidade também têm sistematicamente reencarnado aqui para conduzirem as massas rumo à esperada Nova Era. Outra Providência Divina das mais eficientes foi, sem dúvida, enviar o Consolador prometido pelo Mestre, que “vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito” (João, 14-26). E a relação, certamente, não para por ai.
         Mas o que nos chama a atenção mesmo, voltando à questão, é esse inteligentíssimo mecanismo que tira dos próprios retardatários o impulso necessário para a aceleração da mudança. Para entendê-lo, é necessário retomarmos alguns conceitos: sabemos que há alguns séculos, uma grande massa de espíritos retrógrados está sendo mantida na Espiritualidade para não atrapalhar a evolução da Terra. Todos agora estão tendo sua última chance, reencarnando mais uma vez no Planeta, sendo que aqueles que não aproveitam a oportunidade são exilados em Planetas inferiores até que estejam em acordo com a nova condição do nosso orbe. Pois bem, é comum observarmos que os benefícios da Providência Divina são sempre estendidos ao máximo de sua potencialidade, agraciando inclusive aqueles não diretamente envolvidos e esse caso não foge à regra. É assim que, ao tentar sua reeducação, esses espíritos promovem uma revolução nos usos e costumes das nossas sociedades. Como isso acontece? Inicialmente, tudo o que se percebe é a elevação dos níveis de violência e criminalidade até às alturas, como todos muito bem sabem e/ou sentem na própria pele. Naturalmente isso gera uma fortíssima exigência no sentido de se recobrar o equilíbrio social perdido, tirando-nos da inércia comodista, graças à qual temos “empurrado com a barriga” os problemas das nossas sociedades. 
               Forçados pelo aguilhão, passamos a modificar nossos conceitos, nossas instituições, nossas leis, nossas vidas, enfim. Onde havia, há 50 anos, uma modorrenta força policial, hoje há uma polícia cada vez mais aparelhada, treinada e preparada para fazer frente a criminosos cada vez mais organizados, inteligentes e poderosos. Da mesma forma, o poder Judiciário é naturalmente levado a trabalhar mais e melhor, separando com propriedade as frutas estragadas do restante do cesto. Nossas instituições educacionais estão sendo, igualmente, obrigadas a rever cada antigo conceito, renovando pedagogias e utilizando todos os recursos didáticos disponíveis para conseguirem educar alunos muitíssimo mais refratários do que os de antigamente. Na área da saúde, nos obrigamos a desenvolver soluções à altura de tanta demanda, gerada não apenas pelo excesso de violência mas também pelo maior número de almas doentes e suas consequentes enfermidades transferidas para o corpo físico. A instituição da família, por sua vez, não estará isenta de renovar-se, tendo que deparar-se com a ampliação das questões das drogas, alcoolismo, etc., dentro de seu próprio bojo. No campo das Leis, também premidos pelas circunstâncias, vamos sendo levados a contemplar e prever novos tipos de crimes, ampliar a severidade em relação a uns e abrandar em relação a outros. 
             Em suma, “dias virão em que não ficará pedra sobre pedra”, como garantiu o Mestre Galileu, segundo o evangelista Lucas, no capítulo 21, versículo 6. No entanto, apesar de toda a revolução, o processo não acaba nesse ponto: sua conclusão se dará naquele grande momento em que a quase totalidade dos espíritos rebeldes converteu-se ou foi exilada. É quando teremos a excelência das instituições elevada à máxima grandeza e, em contrapartida, um baixíssimo nível de problemas sociais, que naturalmente retornarão aos patamares anteriores à chegada dos rebeldes. Dá até para imaginar, por exemplo, a extrema desvantagem de eventuais e desgarrados criminosos contra o poderio e preparo de uma força policial e um Judiciário, exaustivamente treinados e capacitados nas piores épocas. Ou, ainda como exemplo, escolas avançadíssimas abrigando alunos altamente predispostos ao aprendizado. Instituições de saúde moderníssimas, recebendo uma humanidade já traquejada no manejo de suas mentes e com pouquíssimas enfermidades Cármicas. Famílias, já devidamente estruturadas e prevenidas, acolhendo espíritos mansos e pouco afeitos aos vícios de toda ordem. Nossas leis que, ao longo do tempo foram sucessivamente melhoradas, nesta fase orientam uma população já relativamente pacificada. Enfim, um enorme progresso geral, conquistado graças a todos os “bandidos vivos”, estrategicamente posicionados pela Divindade, obtendo em algumas décadas o que levaria séculos de árduo e lento trabalho. 
           O preço a ser pago pelo benefício é bastante alto, não há como negar. Que o digam todos os que já tiveram a infelicidade de sofrer na pele as consequências de tanta criminalidade. Mas, de qualquer forma, podemos nos conformar considerando que, permanecendo na Erraticidade, esses espíritos poderiam provocar mais danos ainda, pois teriam muito mais liberdade. Além do que, ao passar por esse inconveniente, aproveitamos para também resgatar nossas pendências, já que também as temos, certamente. Ficamos assim, em um limiar de considerações: de um lado, não queremos enaltecer a rebeldia e a criminalidade, agindo como se acometidos de uma espécie de Síndrome de Estocolmo – quando a vítima de sequestro passa a admirar o sequestrador. Mas de outro, admiramos, sim, mais uma monumental demonstração de sabedoria por parte do Criador, que se utiliza até mesmo do lodo gerado pela maldade humana para fazer brotar a regeneração de toda a humanidade terrestre.  

Carlos Alberto Ferreira da Costa

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Recém-nascidos, maldosos e destruidores.



Em um mundo como o nosso, há uma categoria especial de habitantes que nascem, crescem e se multiplicam com uma facilidade realmente impressionante: os vícios. Ao nascerem, eles chegam com uma face tão inocente que até mesmo os mais cautelosos podem ser seduzidos por sua frágil e infantil aparência. Em todas as épocas houveram vícios que foram desenvolvidos graças a uma total e aparente ausência de maldade e alguns até já nasceram, inclusive, na forma de medicamentos miraculosos. Foi assim no final do século XIX e começo do século XX, quando fabricantes descobriram muitas fórmulas baseadas em substâncias hoje ilegais, e propagandeavam seus medicamentos aos quatro ventos. Outro exemplo, o álcool e o tabaco, até há pouquíssimo tempo, eram utilizados nos filmes somente pelos “mocinhos” e, por conseguinte, tornaram-se símbolos de status. Embora essas substâncias e várias outras permaneçam muitíssimo ativas como geradoras de vícios, não perdemos tempo e já introduzimos outros protagonistas na história: agora, a bola da vez são os celulares e smartphones. E o enredo é sempre o mesmo: chegam com a mesma aura de inocência e vão invadindo nossas vidas, apossando-se de nosso tempo e criando fortes obstáculos à vida de relação, como qualquer droga. Assistimos recentemente em um telejornal o caso de uma jovem, com família – marido, dois filhos – viciada no celular, internada na mesma clínica de recuperação na qual já estava seu irmão, dependente químico. Quando a médica responsável foi entrevistada, disse que o caso dela era pior do que o do próprio irmão, pois ele sabia que poderia evitar o problema se afastando das drogas e ela, como poderia agir da mesma maneira? E procurar ajuda já é um grande passo na direção certa, pois cem por cento dos recém-viciados dizem que param quando querem e a maioria nem sequer reconhece que está viciada! Mas, afinal, quais seriam as razões para abominarmos tanto os vícios? A culpa, que nunca está em nós, claro, pode ser do próprio nível evolutivo do nosso planeta. Ou seja, mundos de Provas e Expiações, como o nosso, tem por característica o renascimento de seres já intelectualmente evoluídos, mas ainda fortemente viciosos. Nossa moral, nessa fase, é bastante vacilante exatamente pela presença das paixões e dos vícios em nossa personalidade. O vacilo ocorre em razão do domínio exercido pelo vício, que dita as regras em nossas vidas, impedindo-nos de dar sequência à nossa programação reencarnatória, a fim de atendermos às prioridades do próprio vício. É aí, portanto, que mora o problema: dificultar o cumprimento de um programa longamente estudado por nós mesmos e pelos nossos mentores, antes de adentrarmos na matéria. Como ainda não somos muito aplicados em nossos compromissos, vamos acumulando mais e resolvendo menos nossos problemas através das existências físicas. E como se diz popularmente, o hábito faz o monge. Quando nos demoramos por várias reencarnações transportando maus hábitos de um plano para outro, temos a ingrata surpresa de nos depararmos com grandes dificuldades para extirpar essas ervas daninhas fortemente enraizadas em nosso psiquismo. Sem falar no enorme inconveniente de se retornar ao Plano Espiritual e passar por crises de abstinência, como qualquer viciado privado da fonte de seu vício. Além de que, para complicar, nossos antigos adversários, agora desencarnados, que nos conhecem mais do que nós mesmos nos conhecemos, se utilizam dessa fragilidade para nos manter sob seu domínio. Mas, afinal, onde tudo começa? Na verdade, se formos analisar a causa primária de todos os vícios, chegaremos a uma necessidade premente de fuga, que há em praticamente todo ser humano. Fuga, em última análise, de nós mesmos, de uma realidade sendo desaprovada constantemente por nossa consciência e demonstrando claramente a influência nefasta de nosso milenar egoísmo. Desta forma, tudo acaba sendo fonte de viciações: álcool, drogas, adrenalina, chocolate, jogos, internet, etc., etc., não importa se tenha bom sabor, seja agradável ou dê prazer. Basta atender ao requisito básico: promover a fuga da realidade. E isso sem falar nos vícios de ordem moral, que exigem mais trabalho ainda na sua remoção. Então, qual seria a solução para um problema dessa envergadura? Sem dúvida, trabalhar na sua base: eliminar, ou pelo menos amenizar, a desaprovação por parte de nossas consciências, combatendo esse egoísmo que teima em nos colocar sozinhos no centro do universo. E como se faz isso, já que não há como subornar o velho Tribunal Divino da Consciência que há dentro de cada um de nós? Não há outra maneira a não ser reduzindo nossa pequenez, através da ampliação da nossa visão do outro. Na resposta da questão 788, de O Livro dos Espíritos, os Benfeitores Espirituais afirmam: “(...) a luz mata as trevas e a caridade mata o egoísmo.” Através da caridade, conseguimos enxergar as dores do outro e, assim, tiramos os olhos do nosso próprio umbigo. Desta forma, quanto mais tempo passarmos ajudando o próximo, mais tempo passamos combatendo nosso egoísmo. E isto acaba por nos dar uma boa maneira de medir, por assim dizer, quanto vale a caridade que fazemos. O que vale mais: dar esmolas ou passar uma tarde em um asilo? É apenas uma questão de comparar o tempo utilizado. E falando nisso, podemos concluir aqui que não devemos nos sentir hipócritas por não conseguirmos ser caridosos ou agir corretamente cem por cento do nosso tempo. A realidade é que somos apenas alunos treinando, praticando, exercitando e não se pode esperar que alunos saibam tudo e acertem sempre. Sigamos, então, a mais básica fórmula da vitória: nunca subestimar o inimigo. Vícios podem disfarçar-se em prazer e aparentar inocência e ausência de maldade. Mas serão sempre grandes empecilhos à nossa infindável evolução, mesmo quando os descrevemos no diminutivo, tentando tornar menor esse grande problema para todos nós.
Carlos Alberto Ferreira da Costa

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Porque Deus nos criou?





Os Grupos de Estudos são, realmente, ambientes muito propícios ao aparecimento de dúvidas atrozes, que nos oferecem a oportunidade de aprender, a partir de um questionamento. Neste caso, a questão proposta por uma pessoa participante do grupo era exatamente esta: qual a razão do Pai Celestial ter criado a humanidade e, de resto, todo o universo, tendo em Si Mesmo todos os Seus atributos em grau máximo? Só para ilustrar e antes de prosseguir, vale lembrar que a definição de Deus contida na primeira questão de O Livro dos Espíritos é: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” Como se isso não bastasse, logo em seguida, na questão treze, Allan Kardec complementa o raciocínio relacionando os Atributos Divinos: eterno, imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente justo e bom. E, para complicar, os Espíritos ainda complementam afirmando que só podemos formar ideia apenas de algumas das perfeições Divinas. Ou seja, Deus é ainda muito mais do que podemos perceber. E isso Lhe dá, portanto, mais motivos ainda para bastar-se por Si mesmo, sem a menor necessidade de nos criar. Essa questão acabou por se tornar, como frequentemente tem acontecido, mais uma oportunidade para estreitar os laços com os espíritos capazes de nos ajudar, a fim de solucionar o problema. Para isso, temos nos valido de uma técnica bastante simples: saturamos a mente com as informações disponíveis e nos colocamos em condições de receptividade para receber o auxílio. Para que isto aconteça, facilita muito uma caminhada tranquila, um ambiente natural, a meditação, etc. Assim, permitimos que os benfeitores espirituais completem as lacunas nas nossas ideias e o conteúdo nos chega íntegro e perfeito. É uma maneira de suprirmos nossa deficiência no quesito mediunidade, porque, obviamente, os médiuns ostensivos não necessitam de tantos subterfúgios. Desta forma, quando nos propusemos a “dormir sobre o problema”, contando com a inspiração do Alto, a solução veio muito clara, cristalina, simples e elementar, como todas as inspirações enviadas pelos Irmãos Maiores: fomos criados e também todo o Universo foi criado porque Deus é amor. Ok, diríamos, isso todos já sabemos, mas o que tem a ver com a questão? Acontece que o amor exige uma contrapartida, exige um alvo, pois não é possível amar-se o nada, amar-se algo inexistente. É ai que entramos nós: fomos criados para ser o objeto do amor de Deus! Nesse fantástico Universo físico e espiritual, onde tudo se encaminha para Unidade Divina, somos nada mais nada menos do que o anteparo necessário para que o Criador seja o que é: puro amor. Agora, portanto, começamos a entender porque o Pai Celestial sempre criou, conforme a questão 21 de O Livro dos Espíritos: A matéria existe desde toda a eternidade, como Deus, ou foi criada por Ele em dado momento? “Só Deus o sabe. Há uma coisa, todavia, que a razão vos deve indicar: é que Deus, modelo de amor e caridade nunca esteve inativo. Por mais distante que logreis figurar o início de Sua ação, podereis concebê-Lo ocioso, um momento que seja?”
Viva a lógica, o bom-senso e a capacidade de utilizá-los! Continuemos, pois, essa jornada purificadora, cujo destino irrevogável é nos tornarmos espelhos cada vez melhores, refletindo com perfeição o Amor Divino. 

Carlos Alberto Ferreira da Costa

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Mais importante do que ir para o Céu é voltar para a Terra!



A grande preocupação do ser humano, quando sobra um tempinho para pensar nessas coisas, tem sido, há séculos, o que fazer para ir para o Céu. Isso, sem abrir mão das regalias e da familiaridade da velha zona de conforto e, claro, sem abdicar de antigos hábitos já consolidados pelo tempo. Como há um jeitinho brasileiro para arranjar tudo, porque não haveria uma maneira de encurtar o caminho para o Paraíso? Mas, como não poderia ser diferente, hoje sabemos, ou pelo menos desconfiamos, que as coisas não são tão simples. É o que já aprendemos com as três revelações enviadas por nosso Pai Celestial – a primeira, através de Moisés, nos ensinava o que não fazer. A segunda, trazida por Jesus, nos diz o que fazer. E a terceira, com o advento da Doutrina Espírita, a partir de 18 de abril de 1857, nos esclarece como fazer.  A humanidade, assim, passou a contar com um roteiro muito claro e seguro, não para nos levar ao Paraíso, mas para nos conduzir à perfeição, através da eternidade. Algo que, aliás, parece ser muito mais interessante! Esse é o verdadeiro conhecimento da verdade que, por fim, nos libertará, como nos garantiu o Mestre Nazareno. Mas, libertará do que? Da nossa própria pequenez, da nossa milenar ignorância escravizadora, da fieira das encarnações dolorosas, ou seja, nos libertará do chão. Afinal, somos seres destinados a alçar altíssimos voos. Nossa sustentação nessa empreitada se faz pelo apoio em duas grandes asas, em cujo desenvolvimento estamos empenhados: a moral e a intelectual. O detalhe é que o processo é longo, operoso e às vezes até oneroso. Só que o sucesso está garantido, ainda que de acordo com a pressa de cada um, pois absolutamente “nenhuma ovelha se perderá”. Portanto, vamos nos ater ao que está mais próximo: o momento atual. E este é, certamente, um dos mais importantes para a humanidade terrestre. Está em pleno vigor a Determinação Divina de separação do joio do trigo, com a implantação definitiva do Reino de Deus na Terra.  Em outras palavras, com a chegada da Era de Regeneração, aqueles que não apresentam as condições necessárias para permanecer no Planeta, são retirados e exilados em planetas inferiores na escala evolutiva. Portanto, desencarnar e ter o direito de voltar para a Terra, na atual conjuntura, é um verdadeiro privilégio. Mas que condições seriam estas, que nos facultariam o retorno ao querido solo da mãe-Terra? Primeiramente, devemos considerar que a mudança será de categoria: de Provas e Expiações para Regeneração. Então, se ainda tivermos a necessidade de utilizar recursos próprios da categoria anterior, como as expiações, definitivamente não estaremos aptos a habitar o futuro orbe regenerado. E quem são os que ainda necessitam usar semelhante ferramenta? Aqueles que não desenvolveram em si mesmos a habilidade de promover seu próprio crescimento evolutivo através do trabalho no bem, através do amor e da caridade. Para que esse desenvolvimento se faça, a condição primordial é a identificação dos principais obstáculos que estão atrapalhando o processo. Nesse sentido, um importante reconhecimento é: quem é o inimigo número um de todo trabalhador? Não, não é o Chefe nem o Patrão. É o sofá! Com todas as suas conotações de inação, conformismo e desperdício de tempo. O tão sonhado mundo melhor se fará com muito trabalho e cabe a nós, habitantes destas terras, arregaçarmos as mangas. Quando o Criador determinou a separação dos escolhidos dentre os muitos chamados, Ele apenas iniciou o processo, fazendo a seleção de pessoal. Dai para frente, a responsabilidade perante a obra recai sobre os tarefeiros, que devem se investir da condição de multiplicadores dessa corrente do bem. Portanto, podemos concluir com uma inegável certeza: o Céu pode esperar. Mas o Planeta Terra não!
Carlos Alberto Ferreira da Costa

sábado, 22 de março de 2014

Porque Deus não nos criou perfeitos?



Certamente todos que nos dedicamos à honrosa tarefa de coordenar Grupos de Estudos, vez por outra nos deparamos com perguntas que, invariavelmente, nos colocam nas chamadas “saias justas”. Uma dessas ocasiões aconteceu quando esta pergunta foi lançada, em pleno Estudo do Livro dos Espíritos. Apesar de, naquela circunstância, estar fora do contexto, não é, absolutamente, uma pergunta sem propósito, pois uma certa postura questionadora é perfeitamente cabível e até desejável. Foi pondo em cheque padrões estabelecidos que a maioria de nós, Espíritas, chegou até a Doutrina. O próprio Codificador nos revela um pouco dessa rebeldia construtiva ao adotar uma filosofia contestadora: “Disse um filósofo que, se Deus não existisse, fora mister inventá-lo, para felicidade do gênero humano. Outro tanto se poderia dizer sobre a pluralidade das existências.” (A. Kardec – O Livro dos Espíritos - cap. V)  
Mas, voltando à pergunta, afinal, porque Deus não nos criou perfeitos? Sem esforços, sem problemas, sem a necessidade de passar tantos milhões de anos evoluindo a passo de tartaruga, enfim, evolução instantânea num passe de mágica. De certa forma, para nós, comodistas inveterados, isso seria uma maravilha, sem sombra de dúvida! No entanto, naquele momento em que a pergunta foi feita no Grupo de Estudos, nos parecia muito mais uma incômoda situação e obviamente procuramos nos livrar dela o mais rápido possível. Tateando no escuro, nossa resposta relacionava vários motivos: porque o universo é dinâmico e exige que tudo se movimente num sentido ascensional; ou porque não há privilégios perante a Divindade; ou mesmo porque, como imortais, evitamos o tédio cuidando da nossa evolução através da eternidade... Resultado: pergunta respondida, satisfação geral e, assim, questão resolvida. Faltou somente um detalhe. O que fazer com aquela voz interior que nos diz que estamos deixando escapar alguma coisa? Bem, a solução mais natural é dar a ela ouvidos interiores. E foi assim que, mais tarde, a Espiritualidade enviou, de forma intuitiva, a resposta para a questão, como uma verdadeira explosão de luz. E então, nossa primeira reação foi: como não pensamos nisso antes? É praticamente como aqueles truques de mágica, que depois que sabemos como são feitos, quase perdem a graça. Ou seja, a simplicidade da resposta é basilar: não somos criados perfeitos, porque a perfeição instantânea é um paradoxo. Para facilitar o entendimento, imaginemos o Criador preparando a receita de um ser perfeito: benevolência, paciência, sabedoria, bondade, conhecimento, virtudes e mais virtudes, enfim, todos os ingredientes em grau máximo. Ao final, “voilà”: um ser ainda imperfeito! Mas como? A Inteligência Suprema do Universo desta vez falhou? É ai que entra o componente gerador do paradoxo. Há uma virtude que nem mesmo o Pai Celestial poderia dar a esse hipotético ser perfeito: O MÉRITO DA CONQUISTA! Por esta razão, o Espírito Emmanuel, no livro O Consolador, cita várias vezes uma Lei Divina muito pouco lembrada: a Lei do Esforço Próprio. Sabemos que a perfeição nos aguarda, sem a menor dúvida. Mas o único caminho que nos leva até ela passa pela aquisição gradativa de cada ínfimo detalhe que irá formar o magnífico conjunto final. Portanto, trabalho é Dádiva Divina, tempo e espaço são as nossas ferramentas. Mãos à obra!


Carlos Alberto Ferreira da Costa