Quem abrir o Livro dos Espíritos e fizer uma pausa para se
permitir raciocinar sobre as implicações decorrentes da questão 918 ali
contida, terá, sem dúvida, excelente oportunidade de travar diálogos mentais
com os Mestres da Espiritualidade e assim chegar a conclusões absolutamente
fantásticas a respeito da questão. Todo o processo já inicia-se na própria
formulação da pergunta, como sempre, muito bem estruturada por Kardec: “Por que
indícios se pode reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o
Espírito na hierarquia espírita?” Ou seja: que indícios nos mostram que um ser
humano galgou mais um degrau, assumiu uma posição mais elevada na hierarquia
espírita? Primeiramente, o mais importante é definir a qual hierarquia Kardec
se referia. É nesse ponto que Os Mestres Imortais nos induzem a pensar grande:
sim, estamos falando da mais abrangente hierarquia, a da gigantesca trajetória
do ser, “desde o átomo primitivo ao arcanjo”, como lemos na questão 540 do já
citado Livro dos Espíritos. Vamos relembrar quais seriam os pontos marcantes
que delimitam esses degraus hierárquicos: reino mineral, vegetal, animal,
hominal e, por fim, angelical! Então, nesse sentido, a questão proposta por
Kardec é como reconhecer um ser em sua fase humana pronto para ingressar em sua
próxima fase, a angelical. Em sua resposta, os Espíritos Superiores dizem que
haveriam dois indícios: o respeito às Leis Divinas e a compreensão da vida
espiritual. O primeiro, completamente incontestável e bem compreensível, mas o
segundo pede uma reflexão. O que há de tão especial em compreender-se a vida
espiritual? Porque isso é tão decisivo? Se voltarmos nossa atenção para o ponto
inicial da vida do ser como homem, teremos um paralelo que muito nos auxiliará
na compreensão. A razão é que este é o momento mágico, quando a criatura
finalmente amplia sua percepção e passa a ter consciência de si mesmo, reconhecendo-se
como um ser existente, ainda que apenas na condição material. Um instante
maravilhoso que marca para sempre a sua estreia como homem e que terá sua
relevância comparada apenas a outro ponto-chave da sua trajetória milenar: é
quando se achará pronto para dar mais um passo, galgar mais um degrau e estrear
agora, orgulhosamente, na condição de anjo. Ele mais uma vez ampliará sua
percepção e passará novamente a ter consciência de si mesmo, não mais como um
ser material, mas agora como espírito, com as qualificações em potencial de um
anjo, imortal, pleno de si mesmo, legítimo filho da luz, herdeiro do Universo.
Quem reconheceria no grosseiro homem das cavernas o refinado ser humano
moderno, com suas potencialidades afloradas? Não é por outro motivo que ainda
teremos por muito tempo uma certa dificuldade em reconhecer o anjo estreante em
homens espiritualizados. Verdadeiros anjos das cavernas em termos espirituais,
mais parecidos com homens, mas ainda assim: anjos! A Natureza não dá saltos,
mas caminha a passos muito, muito largos.