quinta-feira, 24 de abril de 2014

Recém-nascidos, maldosos e destruidores.



Em um mundo como o nosso, há uma categoria especial de habitantes que nascem, crescem e se multiplicam com uma facilidade realmente impressionante: os vícios. Ao nascerem, eles chegam com uma face tão inocente que até mesmo os mais cautelosos podem ser seduzidos por sua frágil e infantil aparência. Em todas as épocas houveram vícios que foram desenvolvidos graças a uma total e aparente ausência de maldade e alguns até já nasceram, inclusive, na forma de medicamentos miraculosos. Foi assim no final do século XIX e começo do século XX, quando fabricantes descobriram muitas fórmulas baseadas em substâncias hoje ilegais, e propagandeavam seus medicamentos aos quatro ventos. Outro exemplo, o álcool e o tabaco, até há pouquíssimo tempo, eram utilizados nos filmes somente pelos “mocinhos” e, por conseguinte, tornaram-se símbolos de status. Embora essas substâncias e várias outras permaneçam muitíssimo ativas como geradoras de vícios, não perdemos tempo e já introduzimos outros protagonistas na história: agora, a bola da vez são os celulares e smartphones. E o enredo é sempre o mesmo: chegam com a mesma aura de inocência e vão invadindo nossas vidas, apossando-se de nosso tempo e criando fortes obstáculos à vida de relação, como qualquer droga. Assistimos recentemente em um telejornal o caso de uma jovem, com família – marido, dois filhos – viciada no celular, internada na mesma clínica de recuperação na qual já estava seu irmão, dependente químico. Quando a médica responsável foi entrevistada, disse que o caso dela era pior do que o do próprio irmão, pois ele sabia que poderia evitar o problema se afastando das drogas e ela, como poderia agir da mesma maneira? E procurar ajuda já é um grande passo na direção certa, pois cem por cento dos recém-viciados dizem que param quando querem e a maioria nem sequer reconhece que está viciada! Mas, afinal, quais seriam as razões para abominarmos tanto os vícios? A culpa, que nunca está em nós, claro, pode ser do próprio nível evolutivo do nosso planeta. Ou seja, mundos de Provas e Expiações, como o nosso, tem por característica o renascimento de seres já intelectualmente evoluídos, mas ainda fortemente viciosos. Nossa moral, nessa fase, é bastante vacilante exatamente pela presença das paixões e dos vícios em nossa personalidade. O vacilo ocorre em razão do domínio exercido pelo vício, que dita as regras em nossas vidas, impedindo-nos de dar sequência à nossa programação reencarnatória, a fim de atendermos às prioridades do próprio vício. É aí, portanto, que mora o problema: dificultar o cumprimento de um programa longamente estudado por nós mesmos e pelos nossos mentores, antes de adentrarmos na matéria. Como ainda não somos muito aplicados em nossos compromissos, vamos acumulando mais e resolvendo menos nossos problemas através das existências físicas. E como se diz popularmente, o hábito faz o monge. Quando nos demoramos por várias reencarnações transportando maus hábitos de um plano para outro, temos a ingrata surpresa de nos depararmos com grandes dificuldades para extirpar essas ervas daninhas fortemente enraizadas em nosso psiquismo. Sem falar no enorme inconveniente de se retornar ao Plano Espiritual e passar por crises de abstinência, como qualquer viciado privado da fonte de seu vício. Além de que, para complicar, nossos antigos adversários, agora desencarnados, que nos conhecem mais do que nós mesmos nos conhecemos, se utilizam dessa fragilidade para nos manter sob seu domínio. Mas, afinal, onde tudo começa? Na verdade, se formos analisar a causa primária de todos os vícios, chegaremos a uma necessidade premente de fuga, que há em praticamente todo ser humano. Fuga, em última análise, de nós mesmos, de uma realidade sendo desaprovada constantemente por nossa consciência e demonstrando claramente a influência nefasta de nosso milenar egoísmo. Desta forma, tudo acaba sendo fonte de viciações: álcool, drogas, adrenalina, chocolate, jogos, internet, etc., etc., não importa se tenha bom sabor, seja agradável ou dê prazer. Basta atender ao requisito básico: promover a fuga da realidade. E isso sem falar nos vícios de ordem moral, que exigem mais trabalho ainda na sua remoção. Então, qual seria a solução para um problema dessa envergadura? Sem dúvida, trabalhar na sua base: eliminar, ou pelo menos amenizar, a desaprovação por parte de nossas consciências, combatendo esse egoísmo que teima em nos colocar sozinhos no centro do universo. E como se faz isso, já que não há como subornar o velho Tribunal Divino da Consciência que há dentro de cada um de nós? Não há outra maneira a não ser reduzindo nossa pequenez, através da ampliação da nossa visão do outro. Na resposta da questão 788, de O Livro dos Espíritos, os Benfeitores Espirituais afirmam: “(...) a luz mata as trevas e a caridade mata o egoísmo.” Através da caridade, conseguimos enxergar as dores do outro e, assim, tiramos os olhos do nosso próprio umbigo. Desta forma, quanto mais tempo passarmos ajudando o próximo, mais tempo passamos combatendo nosso egoísmo. E isto acaba por nos dar uma boa maneira de medir, por assim dizer, quanto vale a caridade que fazemos. O que vale mais: dar esmolas ou passar uma tarde em um asilo? É apenas uma questão de comparar o tempo utilizado. E falando nisso, podemos concluir aqui que não devemos nos sentir hipócritas por não conseguirmos ser caridosos ou agir corretamente cem por cento do nosso tempo. A realidade é que somos apenas alunos treinando, praticando, exercitando e não se pode esperar que alunos saibam tudo e acertem sempre. Sigamos, então, a mais básica fórmula da vitória: nunca subestimar o inimigo. Vícios podem disfarçar-se em prazer e aparentar inocência e ausência de maldade. Mas serão sempre grandes empecilhos à nossa infindável evolução, mesmo quando os descrevemos no diminutivo, tentando tornar menor esse grande problema para todos nós.
Carlos Alberto Ferreira da Costa

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Porque Deus nos criou?





Os Grupos de Estudos são, realmente, ambientes muito propícios ao aparecimento de dúvidas atrozes, que nos oferecem a oportunidade de aprender, a partir de um questionamento. Neste caso, a questão proposta por uma pessoa participante do grupo era exatamente esta: qual a razão do Pai Celestial ter criado a humanidade e, de resto, todo o universo, tendo em Si Mesmo todos os Seus atributos em grau máximo? Só para ilustrar e antes de prosseguir, vale lembrar que a definição de Deus contida na primeira questão de O Livro dos Espíritos é: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” Como se isso não bastasse, logo em seguida, na questão treze, Allan Kardec complementa o raciocínio relacionando os Atributos Divinos: eterno, imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente justo e bom. E, para complicar, os Espíritos ainda complementam afirmando que só podemos formar ideia apenas de algumas das perfeições Divinas. Ou seja, Deus é ainda muito mais do que podemos perceber. E isso Lhe dá, portanto, mais motivos ainda para bastar-se por Si mesmo, sem a menor necessidade de nos criar. Essa questão acabou por se tornar, como frequentemente tem acontecido, mais uma oportunidade para estreitar os laços com os espíritos capazes de nos ajudar, a fim de solucionar o problema. Para isso, temos nos valido de uma técnica bastante simples: saturamos a mente com as informações disponíveis e nos colocamos em condições de receptividade para receber o auxílio. Para que isto aconteça, facilita muito uma caminhada tranquila, um ambiente natural, a meditação, etc. Assim, permitimos que os benfeitores espirituais completem as lacunas nas nossas ideias e o conteúdo nos chega íntegro e perfeito. É uma maneira de suprirmos nossa deficiência no quesito mediunidade, porque, obviamente, os médiuns ostensivos não necessitam de tantos subterfúgios. Desta forma, quando nos propusemos a “dormir sobre o problema”, contando com a inspiração do Alto, a solução veio muito clara, cristalina, simples e elementar, como todas as inspirações enviadas pelos Irmãos Maiores: fomos criados e também todo o Universo foi criado porque Deus é amor. Ok, diríamos, isso todos já sabemos, mas o que tem a ver com a questão? Acontece que o amor exige uma contrapartida, exige um alvo, pois não é possível amar-se o nada, amar-se algo inexistente. É ai que entramos nós: fomos criados para ser o objeto do amor de Deus! Nesse fantástico Universo físico e espiritual, onde tudo se encaminha para Unidade Divina, somos nada mais nada menos do que o anteparo necessário para que o Criador seja o que é: puro amor. Agora, portanto, começamos a entender porque o Pai Celestial sempre criou, conforme a questão 21 de O Livro dos Espíritos: A matéria existe desde toda a eternidade, como Deus, ou foi criada por Ele em dado momento? “Só Deus o sabe. Há uma coisa, todavia, que a razão vos deve indicar: é que Deus, modelo de amor e caridade nunca esteve inativo. Por mais distante que logreis figurar o início de Sua ação, podereis concebê-Lo ocioso, um momento que seja?”
Viva a lógica, o bom-senso e a capacidade de utilizá-los! Continuemos, pois, essa jornada purificadora, cujo destino irrevogável é nos tornarmos espelhos cada vez melhores, refletindo com perfeição o Amor Divino. 

Carlos Alberto Ferreira da Costa

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Mais importante do que ir para o Céu é voltar para a Terra!



A grande preocupação do ser humano, quando sobra um tempinho para pensar nessas coisas, tem sido, há séculos, o que fazer para ir para o Céu. Isso, sem abrir mão das regalias e da familiaridade da velha zona de conforto e, claro, sem abdicar de antigos hábitos já consolidados pelo tempo. Como há um jeitinho brasileiro para arranjar tudo, porque não haveria uma maneira de encurtar o caminho para o Paraíso? Mas, como não poderia ser diferente, hoje sabemos, ou pelo menos desconfiamos, que as coisas não são tão simples. É o que já aprendemos com as três revelações enviadas por nosso Pai Celestial – a primeira, através de Moisés, nos ensinava o que não fazer. A segunda, trazida por Jesus, nos diz o que fazer. E a terceira, com o advento da Doutrina Espírita, a partir de 18 de abril de 1857, nos esclarece como fazer.  A humanidade, assim, passou a contar com um roteiro muito claro e seguro, não para nos levar ao Paraíso, mas para nos conduzir à perfeição, através da eternidade. Algo que, aliás, parece ser muito mais interessante! Esse é o verdadeiro conhecimento da verdade que, por fim, nos libertará, como nos garantiu o Mestre Nazareno. Mas, libertará do que? Da nossa própria pequenez, da nossa milenar ignorância escravizadora, da fieira das encarnações dolorosas, ou seja, nos libertará do chão. Afinal, somos seres destinados a alçar altíssimos voos. Nossa sustentação nessa empreitada se faz pelo apoio em duas grandes asas, em cujo desenvolvimento estamos empenhados: a moral e a intelectual. O detalhe é que o processo é longo, operoso e às vezes até oneroso. Só que o sucesso está garantido, ainda que de acordo com a pressa de cada um, pois absolutamente “nenhuma ovelha se perderá”. Portanto, vamos nos ater ao que está mais próximo: o momento atual. E este é, certamente, um dos mais importantes para a humanidade terrestre. Está em pleno vigor a Determinação Divina de separação do joio do trigo, com a implantação definitiva do Reino de Deus na Terra.  Em outras palavras, com a chegada da Era de Regeneração, aqueles que não apresentam as condições necessárias para permanecer no Planeta, são retirados e exilados em planetas inferiores na escala evolutiva. Portanto, desencarnar e ter o direito de voltar para a Terra, na atual conjuntura, é um verdadeiro privilégio. Mas que condições seriam estas, que nos facultariam o retorno ao querido solo da mãe-Terra? Primeiramente, devemos considerar que a mudança será de categoria: de Provas e Expiações para Regeneração. Então, se ainda tivermos a necessidade de utilizar recursos próprios da categoria anterior, como as expiações, definitivamente não estaremos aptos a habitar o futuro orbe regenerado. E quem são os que ainda necessitam usar semelhante ferramenta? Aqueles que não desenvolveram em si mesmos a habilidade de promover seu próprio crescimento evolutivo através do trabalho no bem, através do amor e da caridade. Para que esse desenvolvimento se faça, a condição primordial é a identificação dos principais obstáculos que estão atrapalhando o processo. Nesse sentido, um importante reconhecimento é: quem é o inimigo número um de todo trabalhador? Não, não é o Chefe nem o Patrão. É o sofá! Com todas as suas conotações de inação, conformismo e desperdício de tempo. O tão sonhado mundo melhor se fará com muito trabalho e cabe a nós, habitantes destas terras, arregaçarmos as mangas. Quando o Criador determinou a separação dos escolhidos dentre os muitos chamados, Ele apenas iniciou o processo, fazendo a seleção de pessoal. Dai para frente, a responsabilidade perante a obra recai sobre os tarefeiros, que devem se investir da condição de multiplicadores dessa corrente do bem. Portanto, podemos concluir com uma inegável certeza: o Céu pode esperar. Mas o Planeta Terra não!
Carlos Alberto Ferreira da Costa