domingo, 2 de janeiro de 2022

O ANJO DAS CAVERNAS

 

            Quem abrir o Livro dos Espíritos e fizer uma pausa para se permitir raciocinar sobre as implicações decorrentes da questão 918 ali contida, terá, sem dúvida, excelente oportunidade de travar diálogos mentais com os Mestres da Espiritualidade e assim chegar a conclusões absolutamente fantásticas a respeito da questão. Todo o processo já inicia-se na própria formulação da pergunta, como sempre, muito bem estruturada por Kardec: “Por que indícios se pode reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o Espírito na hierarquia espírita?” Ou seja: que indícios nos mostram que um ser humano galgou mais um degrau, assumiu uma posição mais elevada na hierarquia espírita? Primeiramente, o mais importante é definir a qual hierarquia Kardec se referia. É nesse ponto que Os Mestres Imortais nos induzem a pensar grande: sim, estamos falando da mais abrangente hierarquia, a da gigantesca trajetória do ser, “desde o átomo primitivo ao arcanjo”, como lemos na questão 540 do já citado Livro dos Espíritos. Vamos relembrar quais seriam os pontos marcantes que delimitam esses degraus hierárquicos: reino mineral, vegetal, animal, hominal e, por fim, angelical! Então, nesse sentido, a questão proposta por Kardec é como reconhecer um ser em sua fase humana pronto para ingressar em sua próxima fase, a angelical. Em sua resposta, os Espíritos Superiores dizem que haveriam dois indícios: o respeito às Leis Divinas e a compreensão da vida espiritual. O primeiro, completamente incontestável e bem compreensível, mas o segundo pede uma reflexão. O que há de tão especial em compreender-se a vida espiritual? Porque isso é tão decisivo? Se voltarmos nossa atenção para o ponto inicial da vida do ser como homem, teremos um paralelo que muito nos auxiliará na compreensão. A razão é que este é o momento mágico, quando a criatura finalmente amplia sua percepção e passa a ter consciência de si mesmo, reconhecendo-se como um ser existente, ainda que apenas na condição material. Um instante maravilhoso que marca para sempre a sua estreia como homem e que terá sua relevância comparada apenas a outro ponto-chave da sua trajetória milenar: é quando se achará pronto para dar mais um passo, galgar mais um degrau e estrear agora, orgulhosamente, na condição de anjo. Ele mais uma vez ampliará sua percepção e passará novamente a ter consciência de si mesmo, não mais como um ser material, mas agora como espírito, com as qualificações em potencial de um anjo, imortal, pleno de si mesmo, legítimo filho da luz, herdeiro do Universo. Quem reconheceria no grosseiro homem das cavernas o refinado ser humano moderno, com suas potencialidades afloradas? Não é por outro motivo que ainda teremos por muito tempo uma certa dificuldade em reconhecer o anjo estreante em homens espiritualizados. Verdadeiros anjos das cavernas em termos espirituais, mais parecidos com homens, mas ainda assim: anjos! A Natureza não dá saltos, mas caminha a passos muito, muito largos.

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